O ano de 2018 já tem mais de meia década e muita coisa aconteceu de lá para cá. O vencedor do The Game Awards daquele ano já teve inclusive uma sequência, mas um jogo que perdeu o título de game do ano segue como o último lançamento de sua produtora — algo que só deve mudar no ano que vem.
Este não é o único motivo, mas é um que aponta para a maior injustiça do The Game Awards de 2018: Red Dead Redemption 2 foi, sim, o jogo daquele ano. E não é nem que God of War seja ruim, na verdade se trata de um jogo nada menos que excelente. Mas a vida de Arthur Morgan é algo muito maior que a aventura de Kratos e seu filho, Atreus.
Vamos comparar alguns pontos dos dois games e provar de uma vez por todas que o TGA 2018 errou.
Já se passaram seis anos e eu ainda não superei.
O The Game Awards de 2018
No longínquo ano de 2018, boa parte do planeta sequer fazia ideia do que a palavra “pandemia” quer dizer. A premiação criada por Geoff Keighley aconteceu em 6 de dezembro daquele ano, tradicionalmente do então teatro Microsoft em Los Angeles.
O título que saiu como dono do evento foi God Of War, que naquele ano ganhou um jogo que mudou a franquia. O game da Santa Monica Studios levou pra casa os prêmios de Melhor Jogo de Ação, Melhor Direção e, claro, Jogo do Ano.
Red Dead Redemption 2 ficou com as categorias de Melhor Performance (Roger Clark, que interpretou Arthur Morgan), Melhor Narrativa, Melhor Design de Áudio e Melhor Música/Trilha Sonora.
As histórias
Ambos títulos já pertenciam a franquias bem estabelecidas. É certo que God of War reinventou o game do bom da guerra. A história do jogo de 2018 deu uma profundidade a Kratos que o personagem nunca sonhou em ter nos três jogos principais e nos derivados anteriores, como Ascension, Ghost of Sparta ou Chains of Olympus.
Levar o personagem para a mitologia nórdica foi algo inteligente e incluir seu filho Atreus como alguém e não só como algo realmente transformou a narrativa da franquia.
Porém, em RDR2 a narrativa não acompanha um personagem já conhecido. Pelo contrário. O segundo game da franquia nos mostra acontecimentos anteriores ao primeiro game e que, de certa forma, estão diretamente ligados com o destino do personagem principal do Red Dead Redemption original, John Marston.
Escrever sobre a jornada que temos com Arthur Morgan aqui seria demais para a comparação, mas temos diversos textos diferentes para exaltar sua história e a narrativa do game, inclusive aqui no IGN Brasil. Em termos narrativos, Red Dead Redemption 2 simplesmente é um dos melhores games já feitos e está alguns degraus claramente acima da trama de God of War.
As jogabilidades
Sim, o God of War de 2018 revolucionou a jogabilidade da franquia, mas sejamos sinceros: tudo aquilo já existia em outros games de ação e aventura. Foi uma revolução para a a franquia, e não para os games de modo geral.
Diversos elementos de metroidvania, arenas como as que ficaram populares após o reboot de Tomb Raider e até mesmo a câmera com perspectiva atrás do personagem – criada em Resident Evil 4, de 2005, e aperfeiçoada por vários jogos nos anos seguintes.
RDR 2, por sua vez, também não tinha nada de novo: era um mundo aberto, como quase todos os jogos da Rockstar. A diferença é a profundidade não só do mapa, mas de tudo que o habita e um nível de imersão que até hoje poucos jogos conseguiram fazer.
NPCs possuem rotinas próprias, animais possuem comportamentos naturais, o clima possui ciclos e suas ações podem mudar boa parte de tudo isso.
É certo que o combate de God Of War é muito mais polido do que o de Red Dead Redemption 2. Afinal, o combate é parte da vida de Kratos e é o maior chamariz do game.
No entanto, Arthur Morgan possui outras formas de lidar com inimigos, sem a brutalidade espartana, mas com o jeitão de cowboy.
Como os dois games estão hoje?
God of War teve uma versão para a nova geração, aplicando mais texturas e framerates ao jogo. O game também já teve uma sequência, Ragnarok, lançada em 2022.
Já o faroeste da Rockstar não teve uma versão atualizada para a atual geração de consoles. Ainda assim, o título ainda segue sendo muito jogado – depois de um boom durante a pandemia – e isso mesmo sem ter tantas diferentes atualizações para o modo online, como seu irmão GTA V.
Os fãs de RDR2 sempre sonharam com uma expansão como Undead Nightmare 2, aperfeiçoando tudo que foi feito no DLC do título original, mas a Rockstar não entregou nada próximo disso. Entretanto, mesmo sem novidades, os jogadores seguem encontrando diversas coisas interessantes no gigantesco mundo aberto do game – que pode muito bem ser considerado o melhor mundo aberto de todos os tempos.
Deuses e Cowboys
God of War 2018 está longe de ser um game medíocre. Ele mudou uma franquia, aprimorou diversas mecânicas que já existiam em outros games e ampliou a história de Kratos para algo além da porradaria maluca dos jogos anteriores.
Esse texto não é para desmerecer o ótimo jogo dirigido pelo muitíssimo competente Cory Barlog. No entanto, a obra encabeçada por Rob Nelson e Imran Sarwar acaba sendo muito mais que um jogo.
Não é sobre as horas que passamos jogando, afinal RDR2 ganharia fácil nisso. Mas é sobre como a jogabilidade se junta à história para nos fazer imergir a ponto de nos sentirmos um amigo de Morgan durante toda sua jornada – que já sabemos como vai acabar ,e mesmo assim, acabamos por ficar emocionalmente abalados.
A história de Arthur Morgan depende muito de ser contada como foi, em um excelente jogo, um mundo aberto espetacular e com uma narrativa incrível, que segue relevante até hoje.
Por melhor que a história de God of War de 2018 seja, ela não tem o brilho ou mesmo o desenvolvimento que o faroeste da Rockstar tem – e o próprio TGA de 2018 reconheceu isso.
E no teste de idade, por mais que o game da Santa Monica continue completamente jogável e tenha uma versão para a geração atual, Red Dead Redemption 2 sequer precisou disso para manter o hype – e o jogo está muito longe de ser feio em consoles atuais. Ao contrário, Red Dead Redemption 2 talvez seja a maior realização técnica da história dos games, e é possível que apenas a própria Rockstar consiga superar isso, quando GTA 6 for finalmente lançado em 2025.
Perdoem-me, Kratos e Atreus. A história de vocês é muito boa e tenho certeza que, após um ótimo game, ela será contada numa excelente série de TV. Mas a história de Arthur Morgan depende muito de ser contada como foi, em um excelente jogo, um mundo aberto espetacular e com uma narrativa incrível, que segue relevante até hoje.
E é por isso que RDR2 deveria ter sido eleito o verdadeiro jogo do ano de 2018.
God of War é excelente, mas é Red Dead Redemption 2 o verdadeiro GOTY de 2018
Por melhor que seja a aventura de Kratos e Atreus, ela não é melhor que as reviravoltas na vida de Arthur Morgan.
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